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Filomena Mascarenhas: História de uma experiência

March 29, 2016
Est. Reading: 3 minutes
Photo credit: Interpeace

Filomena Mascarenhas, uma construtora de paz dedicada, trabalha desde 2007 com Voz di Paz. Anteriormente, Filomena trabalhou no Ministério da Defesa Nacional da Guiné-Bissau, uma experiência que lhe deu  um conhecimento profundo do funcionamento do círculo militar. Aqui nos conta a sua experiência, os preconceitos encontrados, os quais contribuíram a alterar o seu ponto de vista.


A experiência mais marcante da minha vida foi a minha nomeação para o cargo de Ministra da Defesa Nacional (de Abril de 2003 a Maio de 2004).

Esta nomeação estava fora de qualquer interesse meu, porque não me imaginava num cargo ligado à defesa. Em consequência, decidi não aceitar o cargo.

Seguindo isto, muitos amigos e conhecimentos foram ter comigo, aconselhando-me aceitar o desafio, sobretudo no momento em que se vivia no país. Por respeito acabei por aceitar.

O meu primeiro dia como ministra da Defesa Nacional foi muito atormentado. Coincidiu com uma reunião convocada pelo então chefe de Estado Maior General Veríssimo C. Seabra. No encontro que durou das 9:00 as 20:00, estavam presentes todos os chefes de ramos, inspetores militares, oficiais superiores e comandantes de zonas militares.

Durante o encontro, os militares falaram da difícil situação que se vive nas casernas e pediram-me para fazer chegar as suas preocupações ao Presidente da República Dr. Kumba Yala. Esta reunião foi a terapia de choque que me abriu os olhos. Primeiramente sobre os preconceitos que eu tinha como civil em relação aos militares, e em seguida permitiu-me conhecer os grandes desafios que tinha que enfrentar naquela instituição.

Passados poucos meses, parecia-me que sempre tinha trabalhado naquela instituição. O relacionamento com os militares foi dos mais francos que eu tive. Por exemplo, durante uma reunião de trabalho, o então chefe de Estado Maior General das Forças Armadas (FA), General Veríssimo Correia Seabra, na presença do Inspetor da FA Tagme na Waie disse-me: “Senhora Ministra, sabe que aquando da sua nomeação ficamos preocupados. O Inspetor Tagme veio ter comigo dizendo que o Presidente da República não tinha respeito pelos militares, e por isso nomeou uma mulher ao posto de Ministra. Ainda pior, falou duma menininha. Agora, você levou-me o Inspetor! Quando peço por ele, respondem-me que está no ministério com a senhora Ministra.” Ele continuou: “Um dia destes eu disse-lhe: ‘Inspetor, parece que está a gostar muito da nossa Ministra?’ O Inspetor respondeu-me ‘muito, … ela é minha sobrinha … o Presidente demorou para manda-la cá. Se estivesse cá à muito mais tempo, a esta hora esta instituição seria outra’”.

Muitas foram as provas de colaboração e respeito durante a minha estada no Ministério da Defesa Nacional. Mas também depois da minha partida.

A título de exemplo, o diagnóstico mais profundo das causas do conflito na Guiné- Bissau realizado por Voz di Paz, contou com a participação dos militares de diferentes categorias. Voz di Paz tem colhido frutos desta confiança, a começar pela facilidade de planificação de encontros diversos, a disponibilidade de instalações militares para efeitos de trabalho, e o nível de participação e franqueza nos debates.

Até hoje e com sinceridade, guardo boas lembranças daquela instituição e de relacionamentos francos e honestos.

Aprendi que era melhor não fazer promessas que não podem ser cumpridas a um militar. Também aprendi que se alguém quer ter autoridade, não pode usar nada que seja destinado para o seu proveito.

Termino com este conselho a todas as mulheres: “É bom que nunca lhes falte coragem e auto estima. Não há ninguém no mundo que tenha mais coragem do que uma mulher. A prova disto é o ato de dar à luz ”.

 

Obrigada

Filomena Mascarenhas

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